Em 2016, teve início um estudo com o objetivo de avaliar os riscos à saúde alimentar enfrentados pelos consumidores guianenses. Esse estudo hospitalar-universitário intitulado "PARALIM" faz parte da Chamada para Manifestações de Interesse (AMI) "Pesquisa na Guiana Francesa", lançada pela Collectivité Territoriale de Guyane (antiga Région Guyane) em setembro de 2015.
Chamada para manifestações de interesse da "Pesquisa na Guiana Francesa" (AMI)
L Collectivité Territoriale de Guyane (CTG), a autoridade gestora dos fundos europeus, publicou a Chamada de Manifestações de Interesse (AMI) "Pesquisa na Guiana Francesa" como parte do Programa Operacional Regional (PO) FEDER-SSE 2014-2020, que visa desenvolver o conhecimento científico e técnico nas áreas identificadas pela Estratégia de Inovação Regional (SRI-SI). Lançada em 2015, essa AMI fornece 3 milhões de euros em apoio a projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) na Guiana Francesa em várias áreas prioritárias e emergentes, incluindo: agricultura, agroprocessamento, recursos biológicos, turismo, energias renováveis e saúde tropical.
Selecionado pelo CTG, o projeto universitário "PARALIM" aborda a questão dos riscos alimentares ligados ao consumo de carnes de criação e selvagens e, como tal, está se beneficiando desse apoio financeiro europeu para informar o público e os agentes de saúde pública sobre as medidas preventivas de saúde adequadas.
PARALIM: um estudo sobre segurança alimentar para consumidores guianenses
De acordo com um estudo da INVS-AFSSA*, há uma grande variedade de fontes de contaminação de alimentos, desde carne de criação até carne de caça. O consumo de carne infectada crua ou mal cozida é uma via frequente de transmissão de parasitas em humanos. A teníase e a toxoplasmose são as duas principais doenças, responsáveis por mais de 99% dos casos.
Um estudo inicial recente realizado em fazendas na Guiana Francesa revelou um alto nível de infestação por toxoplasma: 53% em cabras, 33% em ovelhas e 7% em bovinos.
Nem todas as doenças parasitárias são de notificação obrigatória e várias delas são assintomáticas no momento da infestação. A maioria das estimativas baseia-se na venda de medicamentos antiparasitários, o que dificulta a identificação de casos infectados.
Para outras parasitoses mais graves, como a triquinelose contraída por meio da ingestão de larvas de triquinas, foi criado um sistema de vigilância para monitorar mais de perto a situação epidemiológica na França. Fora dos períodos epidêmicos, mensagens de prevenção e conscientização são enviadas à população em geral e às pessoas em risco por manipularem carne. Estudos realizados entre 1960 e 1997 mostraram uma soroprevalência de toxoplasmose entre 15% e 92%, com grandes diferenças entre as regiões em ovinos.
Na Suíça, um estudo com ovelhas mostrou que a toxoplasmose era a segunda principal causa de aborto nessa espécie. Outro estudo realizado em Haute-Savoie em 2005 mostrou uma prevalência sorológica de 21% para cordeiros, 59% para ovelhas e 27% para bovinos.
Na Guiana Francesa, não há dados na literatura sobre o risco potencial à saúde causado por parasitas como resultado do consumo de carne de criação e de caça. Na literatura, pouquíssimas informações sobre o assunto são divulgadas para a população. Entretanto, assim como na França continental, as condições de vida dos animais selvagens e de criação favorecem a circulação de parasitas que podem ser responsáveis por certas zoonoses transmissíveis aos seres humanos, de gravidade variável, independentemente de a contaminação ocorrer ou não por meio de um inseto vetor. A descoberta, nos últimos anos, de formas graves de infecção primária por toxoplasma em indivíduos imunocompetentes apóia a hipótese de um risco alimentar. Essas formas envolvem a ingestão de cepas atípicas de T.gondiique circula em habitats selvagens neotropicais entre os felinos selvagens locais e suas presas, mamíferos selvagens não carnívoros que são altamente apreciados pelos seres humanos, constituindo assim uma fonte de contaminação. Outras infecções zoonóticas foram relatadas na Guiana Francesa, como a equinococose neotropical.
Com base nessas descrições, considerou-se que seria útil avaliar o possível risco à saúde em relação a outras zoonoses, revelando a presença ou não de outros parasitas relacionados a Toxoplasma do filo Apicomplexa e de certos helmintos, como trichinae, Taenia e ecchinococosis, usando técnicas moleculares e clonagem.
PARALIM: um projeto original e inovador
A Guiana Francesa é potencialmente muito atraente devido à sua biodiversidade, que é única na Europa, ao grande número de doenças tropicais que precisam ser investigadas e à possibilidade de praticar a medicina tropical no campo; esse é um dos principais recursos da equipe proposta. Esse será o primeiro estudo abrangente de zoonoses parasitárias envolvidas na patologia humana na Guiana Francesa. Ele possibilitará a avaliação dos possíveis riscos alimentares para a população guianense em termos de carne consumida, tanto a proveniente de fazendas de gado guianenses quanto a carne de caça, que é muito popular nesse departamento. A metodologia visa à triagem de agentes potencialmente patogênicos e à avaliação da prevalência de espécies parasitárias. O sequenciamento fornecerá um quadro preciso das cepas que circulam na vida selvagem e nos permitirá avaliar a biodiversidade desses agentes parasitários.
Ao longo de três anos, o projeto PARALIM terá como objetivo :
- Estabelecer uma capacidade de diagnóstico local para riscos alimentares parasitários, com base essencialmente em diagnósticos moleculares.
- Tipagem molecular e filogenia de cepas parasitárias envolvidas em zoonoses e que circulam nos vários biótopos da Guiana Francesa.
- Extrapolar, a partir de dados de filogenia, as interações entre possíveis reservatórios, o meio ambiente e os seres humanos.
- Fornecer conhecimento sobre a patologia de animais parasitados.
- Contribuir para o desenvolvimento de métodos úteis para a prevenção e o controle de doenças que afetam os animais de produção e para melhorar o bem-estar dos animais, aumentando assim a competitividade das fazendas e a qualidade de seus produtos.
- Construir uma soroteca, uma biblioteca de DNA e uma coleção de cepas de parasitas responsáveis por zoonoses, para que possam ser usadas em outros projetos de pesquisa bioclínica ou fundamental.
*Institut de Veille Sanitaire - Agência Francesa de Segurança Alimentar
